terça-feira, 7 de outubro de 2014

Amamentação e culpa

Para o bebê, não existe alimento mais completo que o leite materno. Ele contém todos os nutrientes essenciais para sua nutrição, além de fornecer anticorpos que o protegem contra uma série de doenças.

 A OMS (Organização Mundial da Saúde) orienta o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade e o complementar, que inclui outros alimentos, até os 2 anos.

A amamentação também fortalece o vínculo entre mãe e filho; não faltam, portanto, motivos para que seja estimulada e considerada uma maravilha da qual nenhuma mulher pode se privar.

Acontece que nem sempre amamentar é fácil, e isso é algo que nossas avós não nos contam. Há mães que, por motivos físicos ou emocionais, sofrem para conseguir amamentar os filhos. Levantamento feito em 2014 pela Lansinoh Laboratórios com mais de 13 mil mães e gestantes de nove países, incluindo o Brasil, revelou que muitas mulheres acham complicado amamentar: quando perguntadas sobre quais os desafios da amamentação, as brasileiras citaram como principais obstáculos a dor (47%), a obrigação de acordar no meio da noite (44%) e a dificuldade inicial para aprender a amamentar (33%); 21% das brasileiras têm vergonha de amamentar em público. Quase todas (93%), no entanto, se sentiram ou sentiriam culpadas caso não amamentassem, o maior índice entre os nove países.

A culpa e a maternidade costumam caminhar juntas, não apenas quando o assunto é amamentação. A mulher mãe se sente culpada por trabalhar fora, por ter pouco tempo para os filhos, por ter realizado determinado tipo de parto, por se separar do marido, por contratar babá, por colocar a criança em creche, a lista é infinita. A sociedade brasileira aceita e até mesmo incentiva que a mulher se sinta culpada por suas escolhas.

No caso da mãe que não consegue amamentar, não é diferente. Mesmo quando os motivos são inerentes a ela, a mulher sente que é menos “mãe” quando tem dificuldade para amamentar. Afinal, qual mãe não gostaria de dar ao filho o melhor alimento disponível, que além de alimentá-lo o fará crescer forte e saudável?

Sabemos que nem tudo sai como planejado, ainda mais quando envolve outra pessoa, no caso, o bebê. A culpa de pouco ou nada ajuda, em termos práticos. Cada mulher, cada mãe deve procurar o que funciona para ela e o filho, e buscar ajuda, se necessário. Manter-se calada ou, ao contrário, valorizar a opinião de qualquer um que se sinta no direito de dizer qual o melhor caminho a ser tomado quase nunca ajuda.


*texto originalmente publicado no site www.drauziovarella.com.br