terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A falta de informação sobre a pílula do dia seguinte


Quase todo mundo já sabe: para evitar a gravidez e a propagação de doenças sexualmente transmissíveis, como as causadas pelos vírus HIV e HPV, as pessoas devem usar preservativo em todas as relações sexuais.

Porém, dados da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP), apresentados este ano, revelam que 45% da população brasileira não usa camisinha.

O que fazer, então, diante do risco de uma gravidez indesejada, visto que o aborto é permitido no Brasil apenas para casos de estupro, risco de vida para a mãe ou se o feto for anencefálico?

Já existe um contraceptivo de emergência de que quase todos já ouviram falar, mas do qual as pessoas sabem muito pouco: a pílula pós-coital, também conhecida como pílula do dia seguinte.

Neste site, as matérias sobre a pílula são as mais procuradas, principalmente às segundas-feiras. Em um ano, foram mais de 1 milhão de acessos.

O Ministério da Saúde, desde 2013, facilita o acesso à pílula do dia seguinte. Os postos de saúde não exigem mais receita médica para distribuir, gratuitamente, o medicamento desde essa data.

Porém, o medo de que as mulheres façam uso indevido ou excessivo do medicamento, a proibição pela Igreja Católica e protestante, por considerá-la abortiva, e os tabus que envolvem o sexo dificultam o acesso a informações sobre seu uso correto e disponibilidade.

Os médicos são taxativos ao afirmar que a pílula do dia seguinte não é abortiva. Ela evita ou adia a ovulação, caso ainda não tenha ocorrido, e não deixa formar o endométrio gravídico, a camada que recobre o útero para receber o óvulo fecundado. Assim, a gravidez não ocorre.

Deve ser tomada imediatamente após a relação sexual desprotegida ou até 72 horas depois. Quanto mais depressa a mulher tomar a pílula, mais eficaz ela será.

É preciso que fique claro: a pílula do dia seguinte é cerca de quinze vezes menos eficiente que a pílula anticoncepcional de uso diário. Por sua dosagem de hormônio excessiva, causa, ainda, efeitos colaterais desagradáveis, como náuseas, vómitos e não pode ser usada por mulheres com distúrbios de coagulação e outras doenças. Deve, portanto, ser utilizada em último caso.

Longe de ser um bom método anticoncepcional, a pílula pode evitar que a mulher venha a enfrentar as consequências de uma gravidez indesejada.

De pouco adianta distribuir a pílula nos postos de saúde se quase não há divulgação a respeito do anticonceptivo, abrindo espaço para que circulem informações erradas a respeito.

As mulheres têm de ter assegurados seus direitos contraceptivos, para que possam escolher quando e em que circunstâncias querem gerar um filho. E esses direitos começam no acesso às informações.

*texto originalmente publicado no www.drauziovarella.com.br