sexta-feira, 5 de junho de 2015

Às meninas do Piauí, peço desculpas

Se um grupo de cinco rapazes pegasse quatro ovelhas, levassem-nas para um local ermo, amarrassem-nas, estuprassem-nas, torturassem-nas e depois as jogassem de um barranco de 10 metros de altura, tenho certeza de que a notícia imediatamente se tornaria motivo de indignação nas redes sociais. Não sem razão, pois uma violência dessas não deve ser cometida nem contra animais.

No entanto, isso ocorreu em Castelo do Piauí, cidade de pouco mais de 20 mil habitantes localizada a 190 km da capital do Piauí, Teresina. A diferença é que as vítimas não eram ovelhas, mas sim quatro adolescentes com idades entre 15 e 17 anos. 

A notícia, contudo, não dominou as redes sociais e as rodas de conversa, tampouco os noticiários. Chocou, sim, a cidade, mas no resto do país, poucos sabem do crime.

Não é pouco comum que se estupre, torture e depois descarte mulheres como lixo; todos os estados brasileiros têm inúmeros casos semelhantes para relatar.
Mas não consigo me conformar com o silêncio diante dos crimes de estupro. Em que momento aceitamos viver em uma sociedade que tolera que mulheres e crianças sejam estupradas e tratadas como objetos descartáveis? Como viemos parar aqui?

Quando falamos em cultura do estupro, é isto que queremos dizer: aceitamos e até incentivamos, como sociedade, que se estupre mulheres. Não sabemos como tratar as vítimas, em geral consideradas culpadas ou responsáveis pela agressão, nem coibir e evitar que novos casos ocorram.

Somos responsáveis por cada estupro, por cada agressão, cada assassinato de mulheres. Se não praticamos o ato em si, colaboramos com ele com nosso silêncio e omissão.



Em nome da sociedade, da qual me considero parte atuante e responsável, peço desculpas, envergonhada, às meninas do Piauí.