Se um grupo de cinco rapazes
pegasse quatro ovelhas, levassem-nas para um local ermo, amarrassem-nas,
estuprassem-nas, torturassem-nas e depois as jogassem de um barranco de 10 metros de altura,
tenho certeza de que a notícia imediatamente se tornaria motivo de indignação
nas redes sociais. Não sem razão, pois uma violência dessas não deve ser
cometida nem contra animais.
No entanto, isso ocorreu em
Castelo do Piauí, cidade de pouco mais de 20 mil habitantes localizada a 190 km da capital do Piauí,
Teresina. A diferença é que as vítimas não eram ovelhas, mas sim quatro adolescentes com idades entre 15
e 17 anos.
A notícia, contudo, não dominou as redes sociais e as rodas de conversa, tampouco os
noticiários. Chocou, sim, a cidade, mas no resto do país, poucos sabem do
crime.
Não é pouco comum que se estupre, torture
e depois descarte mulheres como lixo; todos os
estados brasileiros têm inúmeros casos semelhantes para relatar.
Mas não consigo me conformar
com o silêncio diante dos crimes de estupro. Em que momento
aceitamos viver em uma sociedade que tolera que mulheres e crianças sejam
estupradas e tratadas como objetos descartáveis? Como viemos parar aqui?
Quando falamos em cultura do
estupro, é isto que queremos dizer: aceitamos e até incentivamos, como
sociedade, que se estupre mulheres. Não sabemos como tratar as vítimas, em
geral consideradas culpadas ou responsáveis pela agressão, nem coibir e evitar
que novos casos ocorram.
Somos responsáveis por cada
estupro, por cada agressão, cada assassinato de mulheres. Se não praticamos o ato em
si, colaboramos com ele com nosso silêncio e omissão.
Em nome da sociedade, da qual
me considero parte atuante e responsável, peço desculpas, envergonhada, às
meninas do Piauí.