quarta-feira, 10 de junho de 2015

Chega de cantada!



Não conheço nenhuma mulher que nunca tenha levado uma cantada na rua. Não importa a idade, as características físicas, o comportamento, a forma de se vestir, toda mulher que conheço já ouviu frases pretensamente elogiosas ou baixarias da pior espécie ao andar pela rua. 

Também nunca vi nenhuma mulher que gostasse de cantada. Dizem que até tem umas que curtem, mas nunca conheci nenhuma.

Liderada pelo think tank Olga, a campanha "Chega de fiu-fiu" (mais informações aqui) visa a combater essa prática tão enraizada em nossa cultura. Animada com a ideia, comecei a falar a respeito com moças e rapazes.

E descobri que muitos homens não entendem que receber cantada é uma violência para nós, mulheres. Fiquei surpresa, pois muitos deles não se encaixavam no estereótipo do bom e velho “babaca”. 

Então, rapazes, escrevo para vocês.

“Cantada” é um nome que vocês inventaram para suavizar e relativizar uma grosseria que nada tem de simpática. O verdadeiro nome disso é assédio sexual, caracterizado por qualquer manifestação sensual ou sexual alheia à vontade de quem se dirige. É totalmente diferente da paquera, quando há uma tentativa de aproximação com o consentimento de ambas as partes.

Paquera é legal, é bacana, é gostoso. Assédio, não. 

Queremos o direito de andar pelas ruas sem medo, sem precisar pensar se nossa saia está curta demais, se a calça está justa, se está muito tarde, de poder andar na rua sem escutar nada sobre nossa aparência, sem receber olhares que nos devoram, constrangem. Exatamente como vocês fazem todos os dias.

Queremos ter liberdade de ir e vir, de escolher nossa roupa e o caminho a ser tomado sem ter que lembrar o tempo todo que podemos cruzar com um homem que só quer demonstrar poder e nos intimidar. Sim, porque duvido que algum desses rapazes ache que de fato vai levar sua vítima para cama.

Assédio sexual é crime. Então antes de lamber os beiços e chamar aquela moça que cruza a rua de “gostosa”, saiba que você está agindo como um criminoso. E que a última coisa que a moça vai querer é olhar para você.


*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"