segunda-feira, 6 de julho de 2015

Opinião

Quando uma cidade precisa de uma ponte, a prefeitura contrata engenheiros para que executem a obra. Afinal, são eles os especialistas em construção civil. Já quando um parente desenvolve câncer, procuramos um oncologista, o médico especialista em tratar esse tipo de doença. Não nos metemos nas decisões técnicas, embora possamos nos informar e participar delas.

Ninguém diz que acha melhor que a ponte tenha uma envergadura de 20o graus ou que devemos aumentar a dose de determinado quimioterápico, pois pressupõe-se que os profissionais tenham conhecimento e experiência para decidir.

A situação muda de figura quando tratamos de questões que envolvam a sociedade e as ciências humanas. Hoje, por exemplo, a Câmara dos Deputados irá votar a redução da maioridade penal. Muitas pessoas são a favor da redução sem sequer ouvir quem realmente entende do assunto.

A mesma postura vale para a descriminalização do aborto ou a escolha da melhor política de drogas a ser adotada, entre outras questões sociais. Todos dão palpite, poucos consideram aspectos fora da sua opinião estritamente pessoal.

Acontece que essas decisões também envolvem questões técnicas e específicas, como a construção da ponte e o tratamento do câncer. Há profissionais que estudam, debruçam-se sobre a realidade com que trabalham, avaliam pesquisas e dados estatísticos, somam anos de experiência teórica e empírica antes de assumir uma posição sobre determinada questão.

Outros, ainda, não possuem conhecimento teórico, mas vivem e conhecem bem a realidade daqueles a quem determinada decisão vai afetar. Esses também devem ser ouvidos com atenção especial, pois nem todo conhecimento teórico puro dá conta da complexidade do ser humano. 

Nem sempre conseguimos ser imparciais e fazer as melhores escolhas, para construir uma sociedade menos desigual e, portanto, mais justa. As opiniões particulares são, muitas vezes, pouco racionais. Envolvem emoção, credos, valores e experiências individuais. Todos têm direito à opinião, sobre todas as questões. Achar que ela é sempre relevante é o problema.

*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"