quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Princesinha do papai

"Meu pai não me deixava chegar tarde nem trazer namorado para dormir em casa. Meu irmão podia fazer todas essas coisas, eu não. Mas fora isso, ele é o máximo.” Assim definiu seu progenitor uma grande amiga minha. Imagino que seu pai seja mesmo um cara legal, embora tenha deixado uma marca indelével na vida dela: sua criação fez com que acreditasse, mesmo sem ter consciência disso e por muitos anos, que é aceitável que homens e mulheres sejam tratados com direitos e moral diferentes. Pior: que eles têm valores distintos.

Nossa visão de mundo é influenciada por vários fatores, experiências e pessoas. Aprendemos com o que lemos, ouvimos e vivemos, com aqueles com quem cruzamos no caminho, com as reflexões que fazemos. O modo como enxergamos o mundo está em constante formação e, por isso mesmo, pode mudar.

Contudo, há algo que, depois de constituído, dá um trabalhão danado alterar: a forma como nos vemos, nossa autoimagem. As experiências das várias etapas da vida, incluindo infância e adolescência, são essenciais para o contorno da imagem que teremos de nós, que se reflete na maneira como nos colocamos no mundo e na nossa autoestima. Na fase de formação, o pai tem papel extremamente importante.

Um pai machista faz um belo estrago na vida de uma menina. Ele é a primeira referência masculina para a filha, e suas opiniões e o modo como enxerga o mundo e trata as pessoas são primordiais na constituição da sua visão de mundo e de si mesma.

Se ele a faz acreditar que ela não tem o direito de fazer escolhas e que elas não são boas o bastante para serem respeitadas, ela provavelmente vai acabar acreditando. Algumas conseguem, depois de muito empenho e dedicação, mudar a autoimagem negativa que fazem de si mesmas, mas muitas mulheres creem que de fato seus desejos e escolhas valem menos do que os dos outros, em especial dos homens. E que elas merecem pouco da vida, muito pouco.

O pai consciente de sua tarefa é aquele que entende que sua obrigação é fornecer ferramentas (aí também estão incluídos limites e regras, obviamente) para que a filha cresça se sabendo amada e amparada, mas segura e apta para fazer valer suas escolhas. Esse cara, antes de tudo, respeita e acredita na mulher que a filha é e sabe a importância que isso tem na formação da sua autoestima. Ele a ajuda a ser e a acreditar que é capaz.

Se seu pai trata você e seu irmão ou outros homens com regras, moral e direitos diferentes, não permite que você faça certas coisas não porque discorda delas, mas porque você é mulher, desculpe, mas seu pai não é o máximo. Ele é machista. Você vai querer para pai da sua filha um cara assim?


*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"