domingo, 13 de setembro de 2015

Educação contra o machismo


Todo mundo conhece uma mulher que já foi vítima de abuso em locais públicos, independentemente da sua idade, nível social ou aparência. Quando paramos um minuto para ouvir seu relato, quase sempre escutamos frases do tipo: “E olha que meu vestido ia até o joelho”, “Naquela ocasião, eu nem usava maquiagem!”, “Eu estava a caminho do trabalho, era de dia” ou ainda “Juro que não olhei para o rapaz”. Essas justificativas são usadas como tentativa de se explicar, de deixar bem claro que a vítima não teve culpa, de que foi apenas... bem, vítima.


Para tentar coibir os abusos, algumas cidades brasileiras lançaram campanhas contra o assédio no transporte público que incluem peças publicitárias e até a adoção do chamado “vagão rosa”, destinado apenas às mulheres, embora, pasmem!, elas sejam a maioria dos usuários do metrô. Esse tipo de segregação colabora para a cultura de culpabilização da vítima e encoraja abusos nos vagões comuns, sob o pretexto de que as mulheres assumem o risco quando decidem ocupar o espaço que não lhes é destinado.


Além de inúteis, as medidas dão a falsa impressão de que estamos agindo para acabar com o assédio e o abuso em locais públicos quando, de fato, estamos enxugando gelo.


A melhor maneira de diminuir os abusos sexuais é por meio da educação. Por isso é tão importante discutir a questão de gênero nas escolas, tema que encontra resistência por parte dos conservadores, que fazem de tudo para impedir a inclusão do tema nos Planos de Educação. A discussão sobre igualdade e identidade de gênero deve fazer parte do currículo e do planejamento pedagógico de todas as escolas do país.


Meninos e meninas precisam ter as mesmas oportunidades e participar de projetos interdisciplinares que abordem questões como homofobia, racismo, sexismo e identidade de gênero, sempre enfatizando o respeito ao indivíduo. É mais do que necessário que as crianças e jovens discutam essas questões: é imprescindível e inadiável.


Por que será que os conservadores têm tanto medo de que se trabalhe a igualdade de gênero nas escolas? Por acaso receiam que os meninos passem a realizar tarefas domésticas como lavar louça e arrumar a própria cama? Ou que os garotos aprendam desde cedo a respeitar as opiniões e as vontades de outros seres humanos?


Entre outros temores, os conservadores têm medo, na verdade, de que as mulheres adquiram ferramentas para exigir direitos e, como consequência, ofereçam perigo à ordem patriarcal que impera na sociedade. Pelo mesmo motivo, não gostaram do “kit anti-homofobia”, que visava discutir homofobia nas escolas, e evitam que temas caros às minorias façam parte do currículo escolar.


Se os conservadores têm culpa, nós, como sociedade, também temos. Porque aceitamos que eles mandem em nossos filhos, que interfiram em sua educação e continuem perpetuando o machismo e o preconceito. A educação é a melhor ferramenta para construir uma sociedade mais justa e igualitária, em que seus cidadãos se respeitem e saibam conviver com as diferenças. Resta saber se temos, de fato, interesse em criar uma sociedade assim.

*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"